Planear uma gravidez em Portugal

Para além das vantagens práticas óbvias (preparação do casal para a chegada de um novo elemento) a consulta pré-concecional pode permitir a redução ou eliminação dos poucos fatores de risco reprodutivos não só conhecidos como, também, controláveis. Aqui fica uma pequena «lista» de tudo o que deve ser conversado nessa consulta.

Doenças maternas

Certas doenças crónicas como a diabetes, a hipertensão e outras doenças cardiovasculares podem implicar um risco acrescido, quer para a grávida, quer para o feto. Por isso, devem estar bem controladas, antes do início da gravidez. A diabetes, por exemplo, doença que se caracteriza pela existência de níveis elevados de açúcar no sangue, aumenta o risco de defeitos congénitos. Um controlo estrito dos níveis de açúcar desde o início da gravidez, incluindo o período ao redor da conceção, parece reduzir esses riscos. Outras doenças (por exemplo, a epilepsia) necessitam de tratamentos que são responsáveis também por um aumento de risco para certos defeitos congénitos. Por vezes, é possível alterar esses tratamentos (reduzir o número de medicamentos, baixar as doses), pelo menos nos primeiros meses da gravidez. Outra doença muito rara, a fenilcetonúria, necessita de um controlo muito apertado da alimentação, de forma a evitar que o aumento de um nutriente (a fenilalanina) cause um aumento de risco de anomalias congénitas para o feto.

Medicamentos

Existem medicamentos comprovadamente teratogéneos (causadores de malformações fetais). Quando se planeia uma gravidez, é importante dar a conhecer ao médico qualquer medicamento que se esteja a tomar para que, restringindo-o ao mínimo indispensável, se possa reduzir qualquer potencial risco, mesmo que desconhecido. Se, porventura, ocorrer uma gravidez não planeada, estando a tomar medicamentos, para a maioria deles não existem riscos demonstrados, pelo que não se justifica a ansiedade que muitas vezes suscitam.

Infeções e vacinas

Algumas infeções podem ser transmitidas ao feto. Infelizmente, para muitas dessas infeções, pouco se pode fazer para evitar a sua ocorrência durante a gravidez. Mas em algumas delas há medidas a tomar para reduzir os riscos. Da avaliação pré-concecional faz parte a verificação do estado de imunidade e, portanto, de baixo risco, para rubéola, toxoplasmose e, em certas circunstâncias, citomegalovírus.

Se não houver imunidade para a rubéola, dever-se-á vacinar e adiar a gravidez por dois meses após a vacina. Não existe evidência, contudo, que a vacina possa afetar o feto. Para a toxoplasmose não existe vacina, mas, se não houver imunidade, dever-se-ão evitar as possíveis vias de infeção desde o início da gravidez. A saber, o contacto com gatos ou locais conspurcados por este animal, a ingestão de carne mal passada ou crua (incluindo enchidos) e a ingestão de legumes crus não desinfetados. Quanto ao citomegalovírus, pouco há a fazer para evitar uma infeção durante a gravidez por parte de mulheres não imunizadas. Contudo, saber que a candidata a mãe se encontra imunizada, o que acontece com a maioria das mulheres, permite excluir a possibilidade deste tipo de infeção fetal, se alguns dos seus sintomas forem identificados durante a gravidez.

Quanto a outras infeções que podem afetar adversamente a gravidez (infeções urinárias, vaginites, infeções venéreas), dever-se-ão adotar medidas de higiene geral e efetuar o seu rastreio durante a gravidez.

Gravidezes anteriores

Na maioria das vezes, complicações ocorridas em gestações anteriores não voltam a acontecer. No entanto, esse risco existe em algumas situações. Por exemplo, quando se verificaram vários abortos ou o nascimento de crianças com alguns defeitos congénitos pode ser necessário efetuar alguma investigação suplementar, para verificar a possibilidade de identificar a recorrência do fenómeno durante a gravidez seguinte.

História da família

Algumas doenças podem ser hereditárias. Nalguns casais, é possível identificar, antes da gravidez, um risco acrescido para a ocorrência de certas dessas doenças no feto ou recém-nascido. A história familiar é assim determinante e faz parte da avaliação pré-concecional. Em certas situações, pode ser preciso obter informações mais detalhadas, podem ser necessários alguns exames laboratoriais relativamente complexos e demorados para que se possa não só verificar se existe algum risco para a descendência do casal, como também, se tal for o caso, programar, nalgumas situações muito pontuais, a possibilidade de diagnosticar a condição em causa no feto – o chamado diagnóstico pré-natal.