Uma baleia no horizonte, uma gruta vulcânica, um passeio de kayake, um mergulho no Oceano, uma lagoa cheia de “lágrimas” de princesa… quer melhor para umas férias com crianças?
São Miguel, a maior ilha do arquipélago do Açores, é um destino perfeito para passar uns dias em família. Tranquilos e relaxantes, mas também emocionantes e divertidos. O clima é ameno – as temperaturas nunca atingem valores demasiado altos nem baixos -, as distâncias percorrem-se facilmente (a ilha tem apenas 62,1 quilómetros de comprimento e 15,8 quilómetros de largura máxima) e atrativos esses, não faltam. Para todos os gostos e feitios.
Para desfrutar em pleno, e não ter que perder tempo a delimitar rotas ou percursos, recomendamos que opte por tours organizados (com guia). É certo que as estradas são acessíveis e as distâncias curtas (mesmo assim, é indispensável alugar um carro) mas verá que, assim, poupa tempo e pode “saborear” de outra forma as paisagens, além de ficar a conhecer a história (e as estórias) de uma ilha com um passado tão rico… e mágico.
Para começar, sugerimos um dia nas Furnas, concelho de Povoação, onde encontra a junção de algumas das maiores relíquias da ilha: montanhas e campos verdejantes, fumarolas vulcânicas (os mais pequenos vão deliciar-se com as histórias da atividade sísmica da ilha), piscinas naturais e águas termais ricas em ferro.
Depois de uma visita à fábrica de chá Gorreana – onde se podem visitar os campos em socalcos e provar a célebre bebida –, é imperdível subir ao miradouro do Pico do Ferro, que oferece uma vista única sobre a cratera vulcânica do vale das Furnas: a lagoa à direita e o vale à esquerda, ambos rodeados por montanhas majestáticas, quase sempre entrelaçadas de nuvens que lhes conferem um toque místico, quase enigmático. Nas margens da lagoa, encontra-se uma das mais curiosas capelas da ilha de São Miguel, dedicada a Nossa Senhora das Vitórias e destinada a ser o mausoléu de José do Canto, botânico e intelectual açoriano. Se é amante de gastronomia, não deixe de experimentar o famoso cozido (confecionado em solo vulcânico durante cerca de seis horas) e, já agora, assista à retirada da panela (cada restaurante tem um ou dois buracos) com a iguaria que pode depois degustar num dos restaurantes locais.
Banhos termais
Para ajudar à digestão, nada com um passeio pelo Parque Terra Nostra, construído pelo cônsul americanoThomas Hickling há mais de 200 anos. A casa encontra-se rodeada de um imenso e luxuriante jardim, onde se pode encontrar flora endémica açoriana, mas também inúmeras plantas nativas de outros países, com plantas de importante valor histórico e cultural (alberga, por exemplo, uma das mais notáveis coleções do mundo de camélias, com cerca de 600 exemplares). Mas, claro, a grande atração é o imenso Tanque Termal, com a sua água quente (à volta de 40º) e acastanhada (rica em ferro, cálcio e magnésio), onde diariamente centenas de pessoas vão tratar do corpo ou, simplesmente, banhar-se… e, assim, viver um pouco do ambiente místico do parque. Mais ao lado, duas pequenas piscinas naturais fazem também as delícias dos visitantes (no local existem balneários, com duche, para troca de roupa).
Se o banho soube a pouco, e porque o Parque, sobretudo nos meses de verão, costuma estar lotado, ainda podem passar pela Poças da Dona Beija, no Vale das Furnas, um local com várias nascentes férreas e quentes e três piscinas com temperaturas diferentes, além de uma área para molhar os pés ou o corpo e uma ribeira com uma comporta removível que proporciona uma mistura de água quente e fria.
Cachalotes e golfinhos
Depois de um dia na “Sala de Visitas dos Açores”, é tempo de mudar de ares. Se o tempo e o estado do mar assim o proporcionarem, sugerimos uma viagem de barco para avistar cetáceos (para os mais afoitos e experientes, é possível nadar com os golfinhos). Para além de serem um dos maiores santuários de baleia do mundo, nos Açores podem avistar-se uma variedade impressionante de espécies (entre residentes e migratórias, comuns ou raras, existem 20 tipos diferentes de cetáceos nestas águas). A viagem dura cerca de duas horas e meia e só com muito azar não será presentado com um ou dois cachalotes e várias famílias de golfinhos (um sistema de vigias montado por toda a ilha encarrega-se de informar acerca da localização dos animais). Avistar o mergulho de um cachalote é uma sensação única, fotografar os simpáticos golfinhos a brincar bem ao nosso lado uma visão tão divertida quanto inebriante.
Refeitos das emoções (e já com saudades de navegar naquele imenso mar azul), chegamos a terra. As opções são várias (porque tudo é perto), mas uma vista à Caldeira Velha para um mergulho relaxante nas suas piscinas, com passagem pelo miradouro da Lagoa do Fogo, pode ser uma boa opção.
Aventura na Sete Cidades
No dia seguinte, sugerimos um dia mais aventureiro, com uma visita à Lagoa das Sete Cidades, também ela situada numa das crateras vulcânicas que formaram a ilha – o maior lago de água doce dos Açores é, afinal, uma só lagoa, dividida por uma ponte, mas com duas cores diferentes (daí lhe terem sido atribuídos dois nomes: a Lagoa Verde e a Lagoa Azul).
Reza a lenda que foi uma história de amor entre um pastor de olhos verdes e uma princesa de olhos azuis que lhes deu as tonalidades (a paixão contrariada fez os dois derramarem as suas lágrimas de tal forma que encheram as lagoas), mas a verdade é que são os fundos (e as algas) que fazem diversificar as cores. Cheia de lágrimas ou não, a verdade é que a Lagoa oferece (quando as nuvens o permitem) um cenário de uma beleza natural única, um paraíso que apetece observar eternamente (o Miradouro do Cerrado das Freiras é o local ideal para esta visão gigantesca).
Mas a Lagoa tem muito mais encantos que pode descobrir: a pé, de bicicleta, de kayake ou de paddle (alugam-se no local por um preço simpático). Por terra ou água, vai descobrir recantos maravilhosos e paisagens de cortar a respiração (o kayake é seguro, e recomenda-se vivamente para miúdos e graúdos!).
Cansados? Está na hora de relaxar, quem sabe com uma paragem para um piquenique numa qualquer encosta verdejante, o mais certo habitada pelas famosas vacas “felizes. Mas antes de voltar a casa, nada como (mais) um banho, desta ver em pleno Oceano. As Poças Sul dos Mosteiros, situadas na costa ocidental da ilha, ficam mesmo ao lado do mar e nasceram da conjugação da lava vulcânica que se acumulou na costa e da erosão provocada pelas ondas. Com boas infraestruturas de apoio, perfeitas para mergulhos retemperadores (e divertidos, sobretudo com a maré cheia!).
Estas foram apenas algumas sugestões, mas muito mais há para ver e fazer nesta ilha mágica. Praias de águas límpidas, campos de hortênsias, montanhas de escarpas abruptas, encostas verdejantes, grutas e cascatas, ilhéus misteriosos, miradouros de vistas imensas… Um cruzeiro ao pôr do sol, uma caminhada, um safari de jeep, uma descida em canyoning… Paisagens e sensações únicas que, certamente, vai guardar para sempre no baú de memórias. E um aviso: no final, o mais certo é querer regressar.